VERSIFICAÇÃO: É A TÉCNICA E ARTE DE FAZER VERSOS!!



VERSO  é  cada linha do poema; é uma palavra ou conjunto de palavras com unidade rítmica.
Exemplo;
“Quem é esse viajante
Quem é esse menestrel
Que espalha esperança
E transforma sal em mel?” (Milton Nascimento e Fernando Brant)

RITMO  É a sucessão de sons fortes (sílabas tônicas) e sons fracos (sílabas átonas), repetidos com intervalos regulares ou variados. Quando se fala ou se escreve em prosa, procura-se fazer pausas através de sinais de pontuação. As pausas revelam o ritmo do texto, aceleram-no ou não, e são usadas em função do significado que se quer atribuir às palavras ou ao texto.
Observe:
Os cães dos soldados reagiram ao barulho.
Os cães, dos soldados reagiram ao barulho.
No poema, as pausas existem não necessariamente através de sinais de pontuação. as pausas provocam melodia e o ritmo é determinado por elas e pela seqüência de sons.
“Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega e coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.” (Vinicíus de Moraes)
A distribuição das sílabas átonas e tônicas e o tamanho do verso determinam o seu ritmo. E para medi-lo é e necessário observar a quantidade e a intensidade das sílabas.

METRO  É a medida do verso. Metrificação é o estudo da medida dos versos, é a contagem das sílabas  poéticas ou sílabas dos versos. As sílabas dos versos são sonoras e sua contagem é feita de maneira auditiva, diferente, portanto, da contagem estritamente gramatical que ocorre no texto em prosa.
# Sílabas gramaticais:


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Ah!
quem
de
ex
pri
mir
al
ma
im
po
ten
te
e
es
cra
va


(Olavo Bilac)
= 17 sílabas gramaticais
@ sílabas poéticas:


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12

Ah!
Quem
de -ex
pri
mir,
al
ma im
po
ten
te e es
cra
va


Na contagem das sílabas poéticas, as palavras estão ligadas umas às outras mais intimamente, o que confere ao texto o ritmo e a melodia próprios do verso.
Obs : se ocorrer na prosa essa ligação mais íntima entre as palavras, tem-se a prosa poética.

Em função do ritmo, muitas vezes o poeta reduz ou alonga as sílabas poéticas, Por isso, para se medir um verso e proceder à contagem das suas sílabas, é necessário:
# Contar até a última sílaba tônica do verso.
Exemplo:

1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12

“És
a
cla
ve
do
Sol,
és
a
cha
ve
da
som
bra



1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
és
a
Pom
Ba  e o
cor
vo
És
a
ca
pa
na
Fu ga”

(David Mourão Ferreira)

# Observar encontros vocálicos
Exemplo  1 :

“Á
mi
nha
ca
be
cei
ra o
cris
to
mo
rre”


(Sebastião da Gama)

Exemplo 2:

ve
jo
cam
pos
e
seos
de
ver
du
ra

se
rras
a
zuis
de in
fin
da
sua
vi
da
de

(Teixeira de Pascoares)

ENCADEAMENTO  Quando o verso não finaliza juntamente com um segmento sintático, ocorre o encadeamento ou enjabement, que é a continuação do sentido de um verso no verso seguinte:

“E entra a Saudade... Fique
Como assombrado e sem voz!” (Teixeira de Pascoaes)

TIPO DE VERSO   Os versos  são classificados de acordo com o número de sílabas poéticas que possuem:
Monossílabo – verso com uma sílaba poética.
Dissílabo – verso com duas sílabas poéticas.
Trissílabo – verso com três sílabas poéticas.
Tretassílabo – verso com quatro sílabas poéticas.
Pentassílabo ( ou redondilha menor) – verso com cinco sílabas poéticas.
Hexassílabo – veso com seis sílabas poéticas.
Heptassílabo ( ou redondilha maior) – verso com sete sílabas poéticas.
Octossílabo – verso com oito sílabas poéticas.
Eneassílabo – verso com dez sílabas poéticas.
Decassílabo – verso com dez sílabas poéticas.
Hendecassílabo – verso com onze sílabas poéticas.
Dodecassílabo (ou alexandrino) – verso com doze sílabas poéticas.
Verso bárbaro – verso com mais de doze sílabas.

Obs : 1ª O verso decassílabo pode ser heróico ou sáfico. Decassílabo heróico possui acentuação principal na 6ª e 10ª sílabas. Decassílabo sáfico, na 4ª , 8ª e 10ª sílabas.
2ª O verso alexandrino pode ser clássico ou moderno. Alexandrino clássico possui acentuação principal na 6ª e 12ª sílabas ou na 3ª, 6ª, 9ª e 12ª sílabas.
3ª Verso livre é aquele que não obedece a qualquer exigência métrica, apesar de ter o seu ritmo.
ESTROFE  - Estrofes são agrupamentos de versos. Elas podem ser classificadas quanto ao número de versos.
Monóstico – estrofe com um verso.
Dístico – estrofe com dois versos.
Terceto – estrofe com três versos.
Quadra ou quarteto – estrofe com quatro versos.
Quintilha – estrofe com cinco versos.
Sextilha – estrofe com seis versos.
Septilha – estrofe com sete versos.
Oitava – estrofe com oito versos
Nona – estrofe com nove versos.
Décima – estrofe com dez versos.
Obs : Há certos tipos de poesia , como a balada e o rondó, que apresentam versos que se repetem no fim das estrofes. Esses versos são chamados de refrão ou estribilho.

RIMA  Rima é a identidade ou semelhança de sons que ocorre no fim dos versos, embora possa ocorrer também no meio do verso (rima interna).
O que importa na rima é que haja coincidência de sons (total ou parcial) e não das letras que a formam.
A rima acentua o ritmo melódico do texto poético.
Há vários tipos de rima e para especificá-los no poema, convencionou-se usar as letras do alfabeto: os versos que estão ligados entre si pela rima recebem letras iguais.

CLASSIFICAÇÃO DAS RIMAS
As rimas classificam-se:
# quanto às combinações;
# quanto à posição do acento tônico;
# quanto à coincidência de sons;
# quanto ao valor.

QUANTO ÀS COMBINAÇÕES
Rimas emparelhadas: sucedem-se duas a duas (AABB).
“Vagueio campos noturnos A
Muros soturnos A
Paredes de solidão  B
Sufocam minha canção” B
(Ferreira Gullar)

Rimas alternadas ou cruzadas: alternam-se (ABAB)
“Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,  A
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;      B
E apesar disso, crê! Nunca pensei num lar      A
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.”                       B
(Camilo Pessanha)

Rimas interpoladas ou opostas: opõem-se (ABBA)
“Uma cobra obra um ovo      A
bem menor que o da ema           B
mas cada um tem a gema           B
que começa a ser de novo.”  A
(Abel Silva )

Rimas mistas: são aquelas que apresentam outros tipos de combinações.
“Meninas de bicicleta         A
que fagueiras pedalais         B
quero ser vosso poeta!         A
Ó transitórias estátuas          C
Esfuziantes de azul              D
Louras com peles mulatas   C
Princesas da zona sul.”        D
(Vinicius de Moraes)

QUANTO À POSIÇÃO DO ACENTO TÔNICO
Rimas aguada ou masculinas: rimam-se palavras oxítonas, ou monossílabos tônicos.

“Tinhas um pente espanhol
No cabelo português
Mas quando te olhava o sol,
Eras Só quem Deus te fez.” (Fernando Pessoa)

Rimas graves ou femininas: Rimam-se palavras paraxítonas.

“Por que me enterneces tanto
Alegre e festivo bando
Na minha rua passando
A cantar, não sei que canto?” (Carlos Queirós)

Rimas esdrúxulas: rimam-se palavras proparoxítonas.

“ Ah! Quanto custo, ó Deus, ver as crianças pálidas!
Pobres botões em flor! Pobres gentes crisálidas!” 
(Guerra Junqueiro)

QUANTO À COINCIDÊNCIA DE SONS  Rimas perfeita, soante ou consoante: há correspondência completa  de sons.

”Tinha um berço pequenino
E uma criada velha com seu terço
Cresci de mais, como o destino!
Cresci de mais para o meu berço.”  (José Régio)

Rimas imperfeita, toante ou assonante: não há correspondência completa de sons.
“Ó meu ódio, meu ódio majestoso
Meu ódio santo e puro e benfazejo
Unge-me a fronte com teu grande beijo,
Torna-me humilde e torna-me orgulhoso.”  (Cruz e Souza)

QUANTO AO VALOR  Rimas pobres: São muito freqüentes e ocorrem geralmente com palavras de mesma classe gramatical.
“Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do sertão;
Venho da minha maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão.” (Guilherme de Almeida)

Rimas ricas: ocorrem com palavras de classes gramaticais diferentes.
“Não sei se amei o que era em mim desejo
de me ver no outro refletido.
sei que amei sempre amei e vejo
que de amar tenho hoje o coração endurecido.” ( Carlos Felipe Moíses)

Rimas raras: são obtidas entre palavras de muito poucas rimas possíveis.
“Eu que era branca e linda, eis-me medonha e escura
Inspiro horror... Ó tu que espias urdidura
Da minha teia, atenta ao que o meu palpo fia.” (Manuel Bandeira)

Rimas preciosas: São rimas artificiais; aparecem com pouquíssima freqüência.
“ Oh vem, de branco – do imo da folhagem!
Os ramos, leve, a tua mão aparte
Oh vem! Meus olhos querem desposar-te
Refletir-se virgem a serena imagem.” ( Camilo Pessanha)

Obs: 1ª Verso branco é o verso que não tem rima.
“A menina tonta passa metade do dia
a namorar quem passa pela rua,
que a outra metade fica
pra namorar-se no espelho
A menina tonta tem olhos de retrós preto,
cabelos de linha de bordar,
e a boca é um pedaço de qualquer tecido vermelho.(Manuel da Fonseca)

2ª Há vários poemas que têm forma fixa: obedecem a regras que determinam a combinação dos versos, das rimas ou das estrofes. A balada, o rondó, a quadra popular, a sextilha e o soneto são alguns exemplos de poemas de forma fixa. O mais importante de todos, porque sobrevive a todas as épocas e em literaturas de vários países, é o soneto: poema composto de duas quadras e dois tercetos.

 Prof Dr Aldry Suzuki